O transtorno afetivo bipolar é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações significativas do humor, da energia e do comportamento, que podem comprometer o funcionamento pessoal, social e profissional do indivíduo.
Trata-se de um transtorno que pode afetar pessoas de qualquer idade, sexo ou condição socioeconômica, com uma prevalência estimada de cerca de 2% da população mundial.
Embora seja uma condição crônica, o tratamento adequado pode trazer estabilidade emocional, qualidade de vida e bem-estar ao paciente.
COMO A DRA. TAHIRIH PODE TE AJUDAR NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO BIPOLAR?
Sou médica psiquiatra, com residência médica em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Acredito que cada pessoa carrega uma história única — e que essa história merece ser escutada com atenção, empatia e respeito.
Tenho convicção de que o cuidado com a saúde mental começa no encontro humano — na escuta verdadeira, sem pressa e sem julgamentos.
Minha prática clínica é guiada por dois pilares fundamentais, que se complementam e se fortalecem:
- Compromisso com a ciência, que garante que cada decisão seja orientada pelas melhores evidências disponíveis, em busca de tratamentos eficazes e seguros;
- Escuta sensível e acolhedora, que reconhece a singularidade de cada pessoa, sua história, seus sentimentos e suas necessidades.
Acredito que o cuidado só é completo quando se une conhecimento técnico com humanidade e empatia. Antes de qualquer diagnóstico ou tratamento, é essencial enxergar quem está ali, do outro lado.
Se você chegou até aqui e sente que precisa de apoio, saiba: você não está sozinho(a).
Estou à disposição para oferecer um espaço seguro, humano e cuidadoso, onde juntos possamos buscar caminhos para aliviar o sofrimento e reconstruir o seu bem-estar.
O QUE É O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR?
É natural que todas as pessoas apresentem variações de humor ao longo da vida.
No entanto, no transtorno bipolar, essas oscilações são mais intensas, duradouras e, muitas vezes, imprevisíveis, alternando entre episódios de depressão e períodos de euforia ou irritabilidade excessiva (chamados de mania ou hipomania).
Entre essas fases, também podem ocorrer períodos de estabilidade emocional, conhecidos como eutimia.
Para que o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar seja confirmado, é necessária a presença de ao menos um episódio de mania ou hipomania ao longo da vida.
O transtorno bipolar tende a se manifestar no início da idade adulta, com idade média de início por volta dos 20 a 25 anos. No entanto, pode surgir em qualquer fase da vida.
É comum que os primeiros episódios sejam depressivos, o que pode levar a um diagnóstico inicial incorreto, como o de transtorno depressivo maior.
Além disso, muitos pacientes não reconhecem os episódios de hipomania como doença, considerando apenas fases de maior disposição, criatividade ou produtividade.
EXISTEM TIPOS DE TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR?
O transtorno afetivo bipolar é uma condição que se apresenta em diferentes formas clínicas, de acordo com a intensidade e o padrão das alterações de humor.
De forma geral, os subtipos são definidos com base na gravidade dos episódios de elevação do humor (mania ou hipomania)
- Transtorno Bipolar Tipo I (TB I): caracteriza-se por pelo menos um episódio de mania ao longo da vida. Os sintomas costumam durar pelo menos uma semana (ou menos, se houver necessidade de hospitalização) e geralmente causam prejuízo significativo no funcionamento social, profissional ou acadêmico. Embora não seja necessário para o diagnóstico, é muito comum que o paciente com TB I também apresente episódios de depressão maior ao longo da vida.
- Transtorno Bipolar Tipo II (TB II): caracteriza-se por pelo menos um episódio de hipomania (uma forma mais leve da mania) e um episódio de depressão maior. Apesar de os episódios hipomaníacos muitas vezes passarem despercebidos (por serem vivenciados como “fases boas”), os episódios depressivos costumam ser mais duradouros, recorrentes e incapacitantes.
- Transtorno Ciclotímico (ou Ciclotimia): é uma forma mais leve, porém crônica, caracterizada por oscilações persistentes do humor ao longo do tempo, com múltiplos períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos que não chegam a preencher os critérios diagnósticos para episódios completos. Para o diagnóstico, essas oscilações devem ocorrer por pelo menos dois anos em adultos, estando presentes por no mínimo metade do tempo, e sem períodos de estabilidade que durem mais de dois meses consecutivos.
QUAIS SÃO AS CAUSAS DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR?
As causas exatas do transtorno afetivo bipolar ainda não são totalmente compreendidas. No entanto, sabe-se que não existe uma única causa isolada.
O transtorno resulta de uma combinação de fatores genéticos, biológicos e ambientais que interagem de forma complexa ao longo do desenvolvimento do indivíduo.
FATORES GENÉTICOS:
A história familiar é um dos fatores de risco mais bem estabelecidos. Ter um parente de primeiro grau com transtorno bipolar aumenta em até 10 vezes o risco de desenvolver a condição.
Estudos indicam que o transtorno bipolar tem uma herdabilidade genética de 58%, o que significa que mais da metade da predisposição está relacionada a fatores genéticos.
No entanto, a genética isoladamente não é suficiente para causar a doença. É necessário que esses fatores genéticos interajam com o ambiente por meio de mecanismos epigenéticos — ou seja, processos que regulam a expressão dos genes sem modificar o DNA, influenciados por experiências de vida, traumas, estresse e hábitos cotidianos.
Quando há um desequilíbrio entre fatores de proteção (como um estilo de vida saudável, apoio emocional, relações estáveis e resiliência) e fatores de risco (como traumas, estresse intenso e uso de substâncias), podem ocorrer alterações moleculares no cérebro.
Essas alterações impactam a estrutura e o funcionamento de circuitos cerebrais responsáveis pela regulação do humor, do comportamento e da cognição. É nesse ponto que os sintomas clínicos começam a se manifestar.
FATORES AMBIENTAIS:
Mesmo com uma predisposição genética, o transtorno bipolar nem sempre se manifesta.
Fatores ambientais desempenham um papel crucial tanto no seu surgimento quanto na sua evolução. Entre os principais, destacam-se:
- Traumas na infância: abuso físico, emocional ou sexual, bem como negligência, estão associados a início mais precoce dos sintomas e maior gravidade dos sintomas.
- Fatores pré-natais e perinatais: algumas condições durante a gestação ou o nascimento também podem aumentar o risco de desenvolver o transtorno ao longo da vida, como: infecções maternas durante a gravidez, exposição ao fumo durante a gestação e idade paterna avançada.
- Uso de substâncias psicoativas — como maconha, cocaína e outras drogas — está associado a maior risco de desenvolver transtorno bipolar, agravamento do quadro clínico e maior número de recaídas.
COMO IDENTIFICAR SINTOMAS DE MANIA?
A mania é um estado em que a pessoa experimenta uma alteração intensa do humor, da energia e do comportamento. Não se resume a um simples estado de animação ou entusiasmo.
Trata-se de uma condição clínica que pode causar sérios prejuízos à vida pessoal, profissional e social do indivíduo.
COMO É O HUMOR DURANTE A MANIA?
O humor na mania geralmente é descrito como eufórico, ou seja, a pessoa se sente extremamente feliz, animada, confiante e cheia de energia. A pessoa pode se mostrar expansiva, falante, alegre de maneira exagerada e até inconveniente.
No entanto, nem todos os episódios maníacos apresentam esse padrão. Em alguns casos, o humor pode estar predominantemente irritado ou disfórico, o que torna a pessoa impaciente, arrogante ou até agressiva, especialmente quando contrariada.
COMO A MANIA AFETA O PENSAMENTO E A FALA?
Durante um episódio maníaco, o cérebro parece funcionar “rápido demais”. Isso se manifesta de várias formas:
- Pensamentos acelerados;
- Dificuldade de se concentrar;
- Facilidade para se distrair com estímulos externos;
- Fala rápida, contínua e difícil de interromper;
- Troca constante de assunto, com associação superficial entre as ideias.
Em alguns casos, pode ocorrer o que chamamos de fuga de ideias — quando o pensamento se torna tão rápido que a fala não consegue acompanhar, tornando o discurso desconexo e difícil de compreender.
A AUTOESTIMA TAMBÉM É AFETADA?
Sim. É bastante comum que o indivíduo em mania apresente autoestima inflada. Ele pode se sentir especialmente poderoso, importante ou com habilidades extraordinárias.
Essas ideias podem variar desde um otimismo exagerado até delírios de grandeza, como acreditar que possui uma missão divina ou que está destinado a transformar o mundo. Em alguns casos, também podem ocorrer alucinações visuais ou auditivas.
O QUE MAIS PODE ACONTECER DURANTE UM EPISÓDIO DE MANIA?
A mania afeta todo o comportamento da pessoa e pode se manifestar de maneiras bastante variadas.
Em alguns casos, a energia excessiva é canalizada para projetos grandiosos e pouco realistas – por exemplo, decidir formar uma banda de rock sem nunca ter tocado um instrumento, ou querer escrever um livro inteiro em uma noite.
Em outros momentos, essa energia se traduz em inquietação constante, agitação e impulsividade. Veja alguns exemplos:
- Sono reduzido: a pessoa dorme muito pouco (ou quase nada) e mesmo assim se sente disposta.
- Agitação: andar de um lado para o outro, fazer mil coisas ao mesmo tempo.
- Impulsividade: compras exageradas, sexo sem proteção, dirigir perigosamente, fazer doações inesperadas.
- Planos grandiosos: como querer escrever um livro em uma noite ou abrir uma empresa do nada.
Esses comportamentos muitas vezes causam prejuízos reais: dívidas, conflitos com familiares, risco de acidentes, perda de emprego, entre outros.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE MANIA E HIPOMANIA?
A hipomania apresenta sintomas semelhantes aos da mania, porém em intensidade menor.
Nesses episódios, há uma elevação do humor, aumento de energia e mudanças no comportamento que são perceptíveis por outras pessoas, mas não causam prejuízos significativos na vida da pessoa.
Diferente da mania, a hipomania não leva à hospitalização nem apresenta sintomas psicóticos (alterações da percepção da realidade, como delírios ou alucinações).
Na hipomania, é comum que a pessoa se sinta mais produtiva, sociável ou criativa. Muitas vezes, ela interpreta esse estado como algo positivo — uma melhora na performance social, acadêmica ou profissional — e não como um sinal de doença, o que pode dificultar o reconhecimento do problema.
Já na mania, os sintomas são mais intensos e podem comprometer de forma marcante as relações pessoais, a rotina profissional e a capacidade de tomar decisões seguras.
Nesse caso, pode haver comportamento impulsivo, agitação, ideias grandiosas e até sintomas psicóticos, sendo muitas vezes necessária internação psiquiátrica.
MANIA SEMPRE SIGNIFICA TRANSTORNO BIPOLAR?
Na maioria das vezes, sim. A presença de um episódio maníaco é o que define o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar.
No entanto, existem outras possíveis causas para um quadro de mania, como:
- Uso de substâncias (ex: cocaína, maconha, metanfetamina);
- Distúrbios hormonais (ex: hipertireoidismo);
- Doenças neurológicas (ex: epilepsia, demência);
- Infecções ou lesões cerebrais.
Quando isso acontece, chamamos de mania secundária, porque é causada por outro problema de saúde.
POR QUE É IMPORTANTE RECONHECER A MANIA?
Reconhecer um episódio maníaco é essencial para buscar ajuda especializada o quanto antes.
Embora alguns sintomas possam parecer, à primeira vista, positivos (como o aumento da energia ou da criatividade), a mania representa uma condição psiquiátrica séria e potencialmente perigosa.
Sem o tratamento adequado, os episódios tendem a se repetir e a comprometer cada vez mais a saúde mental e a estabilidade da vida do paciente.
Quando tratado corretamente, o indivíduo com transtorno bipolar pode retomar suas atividades com qualidade de vida e equilíbrio emocional.
COMO É A DEPRESSÃO NO TRANSTORNO BIPOLAR?
A depressão é uma das fases mais frequentes e impactantes do transtorno bipolar.
Muitos pacientes com transtorno bipolar buscam ajuda psiquiátrica durante episódios depressivos, sem suspeitar que também apresentam oscilações de humor para o “polo oposto”, como a hipomania ou a mania.
A depressão bipolar pode se manifestar de forma muito semelhante à depressão unipolar (transtorno depressivo maior). Os sintomas são praticamente os mesmos.
No entanto, o que distingue uma da outra é a presença de pelo menos um episódio de mania ou hipomania ao longo da vida.
Principais sintomas da fase depressiva:
- Sentimento de tristeza constante, vazio ou desesperança persistente;
- Diminuição ou perda do interesse ou prazer em atividades antes consideradas agradáveis;
- Alterações no apetite ou no peso (perda ou ganho significativo de peso, sem dieta);
- Insônia ou sono excessivo (hipersonia);
- Agitação ou lentidão motora;
- Fadiga ou perda de energia;
- Sentimentos de culpa excessiva ou de inutilidade;
- Dificuldade de concentração ou de tomar decisões;
- Pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida.
QUANDO SUSPEITAR DE DEPRESSÃO BIPOLAR?
Apesar de a depressão bipolar e a unipolar serem muito parecidas na apresentação clínica, algumas características são mais frequentes nos episódios depressivos bipolares e podem servir como sinais de alerta:
- Início precoce do primeiro episódio depressivo (antes dos 25 anos);
- Episódios depressivos muito recorrentes (5 ou mais ao longo da vida);
- Histórico familiar de transtorno bipolar;
- Presença de sintomas psicóticos durante a depressão;
- Sintomas depressivos atípicos, como: sonolência excessiva, aumento do apetite;
- Depressão ou psicose no pós-parto;
- Tentativas anteriores de suicídio;
- Sintomas maníacos ou hipomaníacos induzidos por antidepressivos;
O QUE SÃO OS ESTADOS MISTOS NO TRANSTORNO BIPOLAR?
O termo “bipolar” costuma sugerir uma alternância entre dois polos opostos — mania e depressão.
No entanto, em muitos casos, sintomas dos dois extremos ocorrem ao mesmo tempo, caracterizando o que chamamos de estado misto.
Cerca de 40% das pessoas com transtorno bipolar vivenciam estados mistos ao longo da vida. Durante um episódio misto, a pessoa pode:
- Sentir-se profundamente triste, angustiada ou desesperançosa, mas ao mesmo tempo com os pensamentos acelerados e o corpo inquieto;
- Ter ideias de culpa ou inutilidade, associadas a uma energia intensa e impulsividade emocional;
- Sofrer com insônia e irritabilidade, enquanto apresenta pensamentos de morte e sofrimento psíquico intenso.
Essa combinação torna o quadro mais perigoso, com maior risco de impulsividade, tentativas de suicídio, uso de substâncias e dificuldade de resposta ao tratamento.
Os episódios mistos nem sempre são fáceis de identificar, mas reconhecê-los é essencial para um tratamento eficaz.
Com acompanhamento psiquiátrico adequado, é possível reduzir os riscos e melhorar significativamente a qualidade de vida.
O QUE SIGNIFICA ESPECTRO BIPOLAR?
Quando falamos em “espectro bipolar”, estamos usando o termo espectro no mesmo sentido que usamos para cores ou luz — uma sequência contínua, onde as tonalidades vão mudando aos poucos, sem uma divisão clara entre uma e outra.
Em vez de dividir os transtornos do humor em categorias rígidas (como “depressão” ou “bipolar”), essa ideia nos ajuda a enxergar tudo isso como partes de um mesmo continuum, com diferentes intensidades e combinações de sintomas.
No caso dos transtornos do humor, o espectro bipolar inclui desde quadros leves e mais sutis — como a distimia, uma forma de depressão mais prolongada e menos intensa — até as formas mais graves, como a mania no transtorno bipolar tipo I.
Entre esses extremos, existem muitas possibilidades, como a ciclotimia (com oscilações mais leves entre depressão e hipomania) e o transtorno bipolar tipo II (com episódios de hipomania, que são formas mais brandas de mania).
Essa visão é muito importante na prática clínica, principalmente em casos de depressão recorrente que não respondem bem aos tratamentos convencionais.
Em muitos desses casos, pode haver sinais sutis de instabilidade de humor — como momentos de energia exagerada, irritabilidade ou impulsividade — que sugerem que o quadro pode estar dentro do espectro bipolar.
Pensar em termos de espectro permite um diagnóstico mais cuidadoso e tratamentos mais eficazes e individualizados.
Isso porque o foco deixa de ser apenas “encaixar” o paciente em uma categoria, e passa a ser compreender como os sintomas se manifestam ao longo do tempo.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO BIPOLAR?
O diagnóstico do transtorno bipolar é exclusivamente clínico, ou seja, não existem exames laboratoriais, de imagem ou testes genéticos que confirmem a presença da doença.
O processo diagnóstico é feito com base em uma avaliação psiquiátrica detalhada, incluindo a escuta cuidadosa do paciente e, sempre que possível, de um familiar ou alguém próximo.
São utilizados como referência os critérios estabelecidos pelos principais manuais diagnósticos, como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças).
Como os sintomas podem variar ao longo do tempo, muitas vezes é necessário um acompanhamento longitudinal para que o diagnóstico seja confirmado.
Isso significa que, em alguns casos, apenas com o tempo — observando como o humor e o comportamento da pessoa se manifestam em diferentes momentos — é possível identificar o transtorno bipolar com segurança.
Apesar dos avanços da neurociência, não há exames que funcionem como marcadores biológicos confiáveis para diagnosticar o transtorno bipolar.
No entanto, exames laboratoriais e de imagem ainda são importantes, pois ajudam a excluir outras doenças que podem causar sintomas semelhantes (como alterações hormonais ou neurológicas) e também são úteis para monitorar os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados no tratamento.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: O QUE PODE SE CONFUNDIR COM O TRANSTORNO BIPOLAR?
O transtorno bipolar pode se parecer com outras condições de saúde mental, principalmente porque vários transtornos compartilham sintomas como impulsividade, instabilidade emocional, agitação ou tristeza profunda.
Por isso, é fundamental fazer uma avaliação criteriosa, levando em conta não apenas os sintomas presentes, mas também sua duração, intensidade, padrão de aparecimento e impacto na vida do paciente.
Veja algumas das condições mais comuns que podem se confundir com o transtorno bipolar:
- Esquizofrenia – Embora ambos os transtornos possam apresentar sintomas psicóticos (como delírios e alucinações), na esquizofrenia esses sintomas são mais persistentes e ocorrem mesmo na ausência de alterações de humor. Já no transtorno bipolar, a psicose costuma estar ligada a episódios de mania ou depressão. Além disso, a esquizofrenia tende a causar maiores prejuízos no funcionamento global ao longo do tempo.
- Transtorno de personalidade borderline (TPB) – Pessoas com esse transtorno vivenciam instabilidade emocional crônica, impulsividade, dificuldades intensas nos relacionamentos e comportamentos autodestrutivos. A diferença principal é que, no transtorno bipolar, essas mudanças acontecem em episódios específicos, com intervalos de estabilidade entre eles. No TPB, a instabilidade emocional é mais constante, reativa, ligada a situações interpessoais. Ainda assim, os dois transtornos podem coexistir no mesmo indivíduo.
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH causa desatenção, impulsividade e agitação, mas esses sintomas são contínuos desde a infância. Já no transtorno bipolar, eles aparecem apenas em fases específicas (como na mania ou hipomania).
Por isso, o diagnóstico correto exige tempo, escuta atenta e uma avaliação clínica cuidadosa. Muitas vezes, o acompanhamento ao longo dos meses é essencial para compreender melhor os padrões de humor e comportamento da pessoa.
TRANSTORNO BIPOLAR E OUTRAS CONDIÇÕES ASSOCIADAS
É muito comum que o transtorno bipolar ocorra junto com outros problemas de saúde mental, como ansiedade, uso de substâncias, TDAH ou transtornos de personalidade. Essas associações são chamadas de comorbidades.
Elas acontecem com muito mais frequência em pessoas com transtorno bipolar do que na população em geral. E são importantes porque podem dificultar o diagnóstico, atrapalhar o tratamento e tornar o quadro mais grave e instável.
Por isso, é fundamental que o psiquiatra avalie a pessoa como um todo, considerando não apenas os episódios de humor, mas também outros sintomas e dificuldades que possam estar presentes.
COMO É FEITO O TRATAMENTO DO TRANSTORNO BIPOLAR?
O tratamento do transtorno bipolar é individualizado e de longo prazo, com o objetivo de controlar os sintomas, prevenir recaídas e melhorar a qualidade de vida da pessoa.
O tratamento é dividido em duas fases principais: o tratamento das crises (fase aguda) e o tratamento de manutenção (prevenção de novos episódios).
Durante as crises, o foco é aliviar sintomas de mania, hipomania, depressão ou episódios mistos.
Já na fase de manutenção, busca-se evitar novos episódios, tratar sintomas residuais e promover estabilidade emocional a longo prazo.
O tratamento costuma combinar medicação com psicoterapia. Os principais medicamentos utilizados incluem:
- Estabilizadores de humor;
- Antipsicóticos;
- Antidepressivos (usados com cuidado e nunca sozinhos, pois podem piorar o quadro em alguns casos).
A escolha dos medicamentos depende da fase da doença, do histórico e da resposta individual do paciente, dos efeitos colaterais e de possíveis outras condições associadas.
Além da medicação, a psicoterapia é uma parte essencial do tratamento. Diversas abordagens psicoterapêuticas têm demonstrado eficácia não apenas na redução dos sintomas depressivos, mas também na prevenção de recaídas e na melhora do funcionamento social, emocional e ocupacional do paciente.
A psicoeducação também tem papel central, ajudando o paciente e sua rede de apoio a entender melhor o transtorno, reconhecer sinais de alerta, identificar gatilhos e colaborar ativamente com o tratamento.
Em casos graves, como risco de suicídio, agressividade, comportamento desorganizado ou falta de adesão ao tratamento, pode ser necessário internação psiquiátrica para garantir a segurança do paciente.
OUTRAS ESTRATÉGIAS IMPORTANTES:
O tratamento também deve considerar o bem-estar integral do paciente. Algumas medidas complementares incluem:
- Desenvolver um estilo de vida saudável, com sono regular, alimentação equilibrada, redução de álcool e outras substâncias;
- Evitar fatores estressores e aprender a lidar melhor com eles;
- Incluir familiares ou pessoas próximas no processo terapêutico, sempre que possível;
- Avaliar comorbidades clínicas e psiquiátricas, já que muitas pessoas com transtorno bipolar convivem com outras condições associadas.
Em situações especiais, como episódios muito graves e resistentes a medicamentos, pode ser indicada a eletroconvulsoterapia (ECT). Apesar do estigma, é um tratamento seguro e eficaz, principalmente em casos de depressão severa, catatonia ou risco iminente de suicídio.
A IMPORTÂNCIA DA ADESÃO E DO ACOMPANHAMENTO CONTÍNUO
Um dos principais desafios é a continuidade do tratamento ao longo do tempo.
Muitos pacientes, por diferentes razões, acabam interrompendo o uso das medicações ou deixando de comparecer às consultas, o que pode aumentar o risco de recaídas, necessidade de hospitalizações e prejuízos nas áreas pessoal, profissional e social.
Para que o tratamento seja eficaz, é fundamental que o paciente entenda a importância de mantê-lo mesmo nos períodos de estabilidade, mantendo o acompanhamento psiquiátrico regular e buscando esclarecimentos sempre que necessário.
Estar bem informado e sentir-se acolhido favorece o comprometimento com o cuidado e com a própria saúde mental.
O suporte de uma equipe multiprofissional é extremamente valioso. Psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e outros profissionais podem atuar de forma integrada, promovendo um cuidado mais amplo e centrado nas necessidades do indivíduo — não apenas no controle dos sintomas, mas também na promoção da qualidade de vida, no fortalecimento de vínculos e no planejamento de uma rotina mais equilibrada.
Com acompanhamento especializado, orientação adequada e a combinação de recursos farmacológicos e não farmacológicos, é possível conviver com o transtorno bipolar de maneira estável, com mais autonomia, bem-estar e perspectiva de futuro.
CONCLUSÃO
O transtorno afetivo bipolar é uma condição psiquiátrica que afeta significativamente o humor, a energia, o pensamento e o comportamento, impactando a vida pessoal, social e profissional de quem convive com a doença.
Apesar de ser uma condição crônica, com o tratamento adequado é possível alcançar a melhora dos sintomas e recuperar a qualidade de vida.
Compreender os sinais e buscar ajuda especializada são passos essenciais para um cuidado eficaz e duradouro.
Caso você tenha se identificado com os sintomas descritos ou deseje uma avaliação mais aprofundada, agende uma consulta.
O acompanhamento psiquiátrico individualizado pode fazer toda a diferença no seu bem-estar.
SAIBA MAIS:
- ABRATA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FAMILIARES, AMIGOS E PORTADORES DE TRANSTORNOS AFETIVOS
https://www.abrata.org.br/ - ANSIEDADE: O QUE É, COMO IDENTIFICAR E QUANDO BUSCAR AJUDA https://dratahirihkaffashi.com.br/ansiedade/
- DEPRESSÃO: O QUE É, COMO IDENTIFICAR OS SINTOMAS E QUAIS OS TRATAMENTOS https://dratahirihkaffashi.com.br/depressao/
- PSIQUIATRA: QUANDO E POR QUE PROCURAR ESSE PROFISSIONAL? https://dratahirihkaffashi.com.br/psiquiatra/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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