Os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns no mundo.
Estima-se que cerca de 28% dos adultos irão apresentar algum tipo de transtorno de ansiedade ao longo da vida. Isso significa que 1 em cada 4 pessoas será afetada por esse problema em algum momento.
COMO A DRA. TAHIRIH PODE TE AJUDAR NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE?
Sou médica psiquiatra, com residência médica em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Acredito que cada pessoa carrega uma história única — e que essa história merece ser escutada com atenção, empatia e respeito.
Tenho convicção de que o cuidado com a saúde mental começa no encontro humano — na escuta verdadeira, sem pressa e sem julgamentos.
Minha prática clínica é guiada por dois pilares fundamentais, que se complementam e se fortalecem:
- Compromisso com a ciência, que garante que cada decisão seja orientada pelas melhores evidências disponíveis, em busca de tratamentos eficazes e seguros;
- Escuta sensível e acolhedora, que reconhece a singularidade de cada pessoa, sua história, seus sentimentos e suas necessidades.
Acredito que o cuidado só é completo quando se une conhecimento técnico com humanidade e empatia. Antes de qualquer diagnóstico ou tratamento, é essencial enxergar quem está ali, do outro lado.
Se você chegou até aqui e sente que precisa de apoio, saiba: você não está sozinho(a).
Estou à disposição para oferecer um espaço seguro, humano e cuidadoso, onde juntos possamos buscar caminhos para aliviar o sofrimento e reconstruir o seu bem-estar.
MAS AFINAL, O QUE É A ANSIEDADE?
A ansiedade é uma resposta natural e importante do nosso corpo diante de situações percebidas como ameaçadoras ou desafiadoras.
Ela funciona como um sinal de alerta, que nos prepara para agir e lidar com o que está por vir.
Sabe aquela sensação de coração acelerado antes de uma apresentação? Ou aquele frio na barriga antes de uma entrevista de emprego? Isso é ansiedade — e até certo ponto, ela é normal, saudável e até necessária.
Essa reação ajuda a manter o foco, tomar decisões com mais rapidez e evitar riscos. Ela nos deixa em estado de atenção, prontos para responder a possíveis perigos.
ANSIEDADE COMO UM MECANISMO NATURAL DE PROTEÇÃO
Você já parou para pensar por que sentimos ansiedade?
Apesar de muitas vezes ser desconfortável, a ansiedade tem uma função importante: ela surgiu como um mecanismo natural de proteção da nossa espécie.
Sob a ótica da evolução, indivíduos que eram mais ansiosos tinham maiores chances de sobreviver. Isso porque estavam mais atentos aos perigos do ambiente, como predadores ou situações de risco, e mais propensos a agir com cautela.
Além disso, essas pessoas também tendiam a acumular recursos, como alimentos, ajudando na sua própria sobrevivência e na de seus descendentes. Ou seja, sentir ansiedade era uma vantagem para a adaptação ao meio.
Nesse sentido, a ansiedade foi “selecionada” ao longo da evolução por sua função de prolongar a vida — nos preparando para enfrentar ameaças e tomar decisões rápidas em momentos de incerteza.
Porém, como todo mecanismo de defesa, ela precisa funcionar na medida certa. A ansiedade saudável é:
- Proporcional ao perigo ou desafio enfrentado.
- Limitada no tempo — aparece quando necessária e desaparece quando a situação se resolve.
- Útil para nos proteger e preparar para lidar com o que está por vir.
O problema surge quando essa resposta natural começa a funcionar de forma exagerada ou em momentos em que não há uma ameaça real.
Quando a ansiedade não desliga ou perde o controle, ela deixa de ser protetora e passa a causar sofrimento — é nesse ponto que ela pode se tornar patológica.
Portanto, embora a ansiedade seja, em sua origem, uma função adaptativa benéfica, é essencial que ela seja modulada de acordo com a realidade do ambiente.
Quando isso não acontece, ela deixa de nos ajudar e começa a atrapalhar nossa qualidade de vida.
ANSIEDADE E MEDO: QUAL É A DIFERENÇA?
Embora parecidos, ansiedade e medo não são a mesma coisa:
- Medo: surge diante de uma ameaça real e imediata.
Por exemplo, uma pessoa que tem medo de altura pode sentir o coração acelerar, suar frio e até ficar paralisada ao se aproximar da borda de um prédio muito alto.
Esse medo é uma reação a uma situação concreta e presente — no caso, a altura.
- Ansiedade: é a antecipação de algo que pode acontecer, mesmo que o perigo não seja concreto ou esteja no futuro.
Imagine alguém que tem ansiedade antes de uma entrevista de emprego. Mesmo sem saber como será a entrevista, essa pessoa pode passar a noite sem dormir, com o coração acelerado e pensamentos como: “E se eu travar?”, “E se acharem que sou incompetente?”.
A ansiedade, aqui, está relacionada a uma preocupação com o que ainda não aconteceu, muitas vezes de forma exagerada ou fora de proporção com o risco real.
QUANDO A ANSIEDADE DEIXA DE SER NORMAL E SE TORNA UM TRANSTORNO?
Sentir ansiedade em momentos importantes — como antes de uma prova, entrevista de emprego ou decisão difícil — é totalmente normal. Esse tipo de ansiedade é temporário e está diretamente ligado à situação. Ela desaparece assim que o momento passa e não compromete o bem-estar da pessoa.
Por outro lado, a ansiedade deixa de ser saudável e passa a ser considerada patológica quando:
- É muito intensa ou ocorre com muita frequência.
- Persiste por longos períodos (geralmente mais de 6 meses).
- Permanece mesmo depois que a situação que a causou já passou.
- Prejudica o bem-estar, a saúde e o funcionamento no dia a dia (como nos estudos, trabalho ou relações pessoais).
- Surge sem um motivo claro ou é desproporcional ao que está acontecendo.
Nesses casos, é possível que a pessoa esteja sofrendo de um transtorno de ansiedade — e buscar ajuda profissional pode fazer toda a diferença.
Apesar de poderem surgir em qualquer fase da vida, é comum que os sintomas comecem ainda na infância ou adolescência — muito antes do que acontece com outros transtornos psiquiátricos.
Esse início precoce costuma causar intenso sofrimento emocional e pode interferir diretamente no desenvolvimento da pessoa, afetando seus estudos, trabalho, vida social e relações familiares.
Outro dado importante é que os transtornos de ansiedade afetam mais mulheres do que homens. Estudos mostram que cerca de 30,5% das mulheres terão algum transtorno de ansiedade ao longo da vida.
COMO A ANSIEDADE AFETA O CORPO E A MENTE?
A ansiedade vai muito além de experiências subjetivas como preocupações ou tensão. Ela provoca uma série de alterações físicas, emocionais, cognitivas e comportamentais. Entender como ela se manifesta ajuda não só a reconhecer os sinais, mas também a buscar formas de cuidar da saúde mental de forma mais eficaz.
1. Sintomas físicos (fisiológicos):
São as reações do corpo quando o organismo entra em estado de alerta. Os mais comuns incluem:
- Coração acelerado (taquicardia)
- Respiração curta ou rápida (fôlego ofegante)
- Suor excessivo (inclusive nas mãos)
- Tensão muscular
- Dor de cabeça
- Aperto no peito
- Desconforto estomacal, náuseas ou dor na “boca do estômago”
- Tremores, tontura, sensação de formigamento
- Inquietação — dificuldade de relaxar ou permanecer parado
Essas sensações ocorrem porque o corpo entende que está diante de uma ameaça, mesmo que ela não seja real ou imediata.
2. Sintomas emocionais:
A ansiedade costuma ser sentida como uma emoção negativa, associada a:
- Sensação de angústia
- Medo constante ou sensação de ameaça iminente
- Irritabilidade, impaciência
- Incômodo persistente sem causa aparente
3. Sintomas mentais (intelectuais e cognitivos):
A mente também é fortemente impactada. A pessoa pode apresentar:
- Estado de hipervigilância (sentir-se sempre “em alerta”)
- Pensamentos acelerados, confusos ou catastróficos
- Dificuldade de concentração ou distração constante
- Tendência a antecipar o pior (“E se algo der errado?”)
- Sensação de perda de controle
Além disso, a ansiedade pode distorcer a percepção da realidade — alterando como a pessoa percebe o tempo, o ambiente e até as intenções dos outros. Isso prejudica o aprendizado, a memória e a capacidade de tomar decisões. A pessoa pode sentir que não consegue organizar os pensamentos ou conectar ideias com clareza.
4. Comportamentos associados à ansiedade:
Para tentar lidar com o desconforto, muitas pessoas adotam comportamentos de esquiva — ou seja, evitam situações que despertam ansiedade. Exemplos incluem:
- Deixar de ir a lugares com muita gente
- Evitar falar em público
- Recusar convites por medo do julgamento
- Usar álcool ou outras substâncias para “se acalmar”
Esses comportamentos trazem alívio temporário, mas reforçam o medo e alimentam um ciclo vicioso:
A pessoa sente ansiedade → evita a situação → não testa se seu medo é real → continua acreditando que não consegue lidar → a ansiedade cresce ainda mais.
A boa notícia é que esse ciclo pode ser quebrado. Quando a pessoa reconhece os sinais, entende como sua mente está funcionando e aprende a regular seus pensamentos e reações, a ansiedade
FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
Diversas situações podem favorecer a transição da ansiedade normal, que faz parte da vida, para uma ansiedade patológica, que causa sofrimento e prejuízos.
Esses fatores de risco envolvem tanto características individuais quanto influências familiares e ambientais.
SEXO FEMININO:
As mulheres têm o dobro de chances de desenvolver transtornos de ansiedade em comparação com os homens.
Ainda não se sabe exatamente por que isso acontece, mas acredita-se que fatores hormonais, sociais e culturais possam contribuir.
HISTÓRICO FAMILIAR:
Ter familiares próximos (como pai ou mãe) com transtorno de ansiedade ou depressão aumenta significativamente o risco de também desenvolver um transtorno ansioso.
Estudos mostram que filhos de pessoas com transtorno de ansiedade têm de duas a quatro vezes mais chances de desenvolver o mesmo problema, muitas vezes ainda na infância ou adolescência. Isso sugere que fatores genéticos desempenham um papel importante.
TRAÇOS DE PERSONALIDADE E ESTILO DE CRIAÇÃO:
Certas características temperamentais, como o temperamento inibido (crianças muito tímidas ou retraídas desde cedo), e relações familiares marcadas por controle excessivo, críticas constantes ou pouco afeto, também aumentam o risco de transtornos ansiosos no futuro.
ESTRESSORES DA VIDA:
Situações difíceis vividas ao longo da vida — como problemas financeiros, doenças graves na família, separações ou divórcios — são fatores que podem desencadear ou agravar quadros de ansiedade, principalmente em adultos jovens.
USO DE SUBSTÂNCIAS
O tabagismo e o uso abusivo de álcool também estão associados aos transtornos de ansiedade.
No entanto, essa relação é bidirecional: ou seja, pessoas com ansiedade podem usar essas substâncias para aliviar os sintomas, ao mesmo tempo em que o uso contínuo pode piorar ou favorecer o surgimento da ansiedade.
GENÉTICA E AMBIENTE:
Estudos mostram que os transtornos de ansiedade têm uma hereditariedade estimada entre 30% e 40%.
Apesar disso, os genes exatos envolvidos e os mecanismos da transmissão familiar ainda não são totalmente conhecidos.
O que se sabe é que fatores genéticos podem aumentar a sensibilidade ao estresse, especialmente quando a pessoa vive em ambientes desfavoráveis.
Isso significa que, muitas vezes, é a combinação entre predisposição genética e experiências de vida que desencadeia o transtorno.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE?
Os transtornos de ansiedade formam um grupo de condições diferentes, mas que compartilham características em comum: medo ou ansiedade excessivos e comportamentos de esquiva (ou seja, a tendência de evitar situações que causam medo ou desconforto, mesmo que não representem um perigo real).
A diferença entre eles está nos tipos de situações que são temidos ou evitados e pelo conteúdo dos pensamentos ou crenças associados.
Embora medo e ansiedade sejam respostas naturais do corpo, nos transtornos essas reações são intensas, desproporcionais e persistentes, afetando o dia a dia da pessoa.
A seguir, conheça os principais tipos:
TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO: Mais comum na infância, mas também presente em adultos. Esse transtorno envolve medo excessivo de se afastar de figuras de apego, como pais, parceiros ou filhos. A pessoa teme que algo ruim aconteça com eles ou com ela mesma durante a separação. Isso pode gerar sintomas físicos, pesadelos e uma relutância extrema em ficar sozinha ou se afastar de casa. |
MUTISMO SELETIVO: Neste transtorno, a pessoa é capaz de falar normalmente em algumas situações (como em casa), mas fica em silêncio em ambientes onde se espera que ela fale, como na escola ou no trabalho. Não se trata de timidez comum, e sim de um bloqueio que interfere nas relações sociais, no desempenho acadêmico e profissional. |
FOBIA ESPECÍFICA: É o medo intenso e persistente de um objeto ou situação específica, como animais, altura, avião, sangue ou injeções. O contato (ou até a simples ideia) com o estímulo fóbico provoca uma resposta imediata de medo, que costuma ser fora de proporção com o risco real. |
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL): Envolve medo intenso de situações sociais em que a pessoa pode ser observada, julgada ou avaliada por outras pessoas. Situações como falar em público, comer em frente aos outros ou simplesmente conversar com desconhecidos podem gerar ansiedade extrema. A pessoa teme ser humilhada, rejeitada ou passar vergonha, o que leva à evitação frequente dessas situações. |
TRANSTORNO DE PÂNICO: Caracteriza-se por crises súbitas e recorrentes de medo intenso, chamadas de ataques de pânico. Durante os ataques, a pessoa sente sintomas como falta de ar, palpitações, tremores, sensação de morte iminente ou de perda de controle. Os ataques podem ser inesperados ou ocorrer em situações específicas. Além disso, muitas pessoas vivem com medo constante de ter novos episódios, o que gera mudanças no comportamento e esquiva de atividades ou lugares. |
AGORAFOBIA: Nesse transtorno, o medo está ligado a estar em locais ou situações onde escapar pode ser difícil ou onde a pessoa acredita que não receberá ajuda caso tenha uma crise. Isso inclui: usar transporte público, estar em espaços abertos ou fechados, ficar em filas ou multidões e sair de casa sozinho. Com o tempo, a pessoa pode passar a evitar essas situações completamente, o que prejudica muito sua rotina e qualidade de vida. |
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG): É marcado por preocupações excessivas e constantes com diversas áreas da vida, como trabalho, saúde, família e finanças. Essas preocupações são difíceis de controlar e vêm acompanhadas de sintomas como: inquietação, sensação de estar “no limite”, fadiga, dificuldade de concentração ou “brancos”, irritabilidade, tensão muscular e problemas de sono. |
Alguns desses transtornos podem ocorrer simultaneamente ou se alternar ao longo do tempo.
Além disso, é comum que a pessoa tente evitar situações temidas como uma forma de aliviar os sintomas — o que, no curto prazo, parece funcionar, mas reforça o ciclo da ansiedade no longo prazo.
Por isso, é fundamental entender os sinais e buscar orientação de um psiquiatra.
Quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, maiores as chances de retomar o equilíbrio emocional e a qualidade de vida.
ANSIEDADE E ESTRESSE: QUAL A RELAÇÃO?
Ansiedade e estresse são experiências diferentes, mas profundamente conectadas — e muitas vezes, se alimentam uma da outra.
O estresse geralmente surge como uma resposta a pressões externas, como prazos apertados, conflitos no trabalho, cobranças familiares ou responsabilidades acumuladas. Pode ser pontual e até positivo em pequenas doses, ajudando a manter o foco e a produtividade.
Já a ansiedade é a resposta emocional e física que pode surgir a partir desse estresse, especialmente quando ele se mantém por muito tempo ou quando a pessoa sente que não tem recursos para lidar com as exigências do momento.
Se os mecanismos de enfrentamento não estão funcionando bem, o estresse contínuo pode se transformar em ansiedade crônica, trazendo sintomas como preocupação constante, tensão, insônia e irritabilidade.
Além disso, fatores externos (como pressões no trabalho ou dificuldades financeiras) e internos (como pensamentos negativos e conflitos internos) podem se combinar, tornando a resposta emocional ainda mais intensa.
Com o tempo, essa sobrecarga pode desencadear um quadro de transtorno de ansiedade, caso não seja reconhecida e tratada adequadamente.
QUANDO ANSIEDADE E DEPRESSÃO SE MISTURAM: ENTENDA A SOBREPOSIÇÃO DE SINTOMAS
Apesar de terem causas e características diferentes, a depressão maior e os transtornos de ansiedade compartilham vários sintomas semelhantes — o que pode dificultar o diagnóstico e confundir quem está passando por isso.
Na depressão, os sintomas principais costumam ser humor deprimido (tristeza intensa e persistente) e perda de interesse ou prazer nas atividades.
Já na ansiedade, os destaques são o medo exagerado e a preocupação constante.
No entanto, há uma série de sintomas que podem aparecer em ambos os quadros, como:
- Distúrbios do sono (dormir demais ou ter insônia)
- Cansaço constante (fadiga)
- Dificuldade de concentração
- Agitação ou lentidão física e mental
Esses sintomas “compartilhados” fazem com que, em muitos casos, uma pessoa com depressão também apresente sinais de ansiedade — e vice-versa.
Dependendo de como os sintomas se combinam, um quadro pode evoluir para o outro, ou os dois podem coexistir.
Por isso, é comum que o diagnóstico precise de uma avaliação cuidadosa, feita por um profissional, para diferenciar as condições ou reconhecer quando elas estão acontecendo ao mesmo tempo.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE?
O diagnóstico dos transtornos de ansiedade exige uma avaliação cuidadosa e individualizada.
O espectro dos transtornos ansiosos inclui diversos quadros clínicos — como transtorno de pânico, ansiedade generalizada, fobia social, entre outros — e cada um deles possui critérios específicos para diagnóstico, definidos por manuais internacionais, como:
- O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais)
- A CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, da OMS)
Outro pronto importante, é fazer o que chamamos de diagnóstico diferencial. Ou seja, diferenciar os transtornos de ansiedade de outros transtornos psiquiátricos (como depressão maior, transtorno bipolar) e também de condições médicas gerais que podem provocar sintomas semelhantes.
Além disso, a ocorrência de mais de um transtorno ao mesmo tempo é bastante comum. Assim, o paciente pode ter tanto um transtorno de ansiedade quanto outro diagnóstico associado (como depressão ou transtorno de uso de substâncias).
Por isso, muitas vezes o objetivo não é encontrar “um único diagnóstico”, mas sim compreender a complexidade do quadro e priorizar o plano de cuidado de acordo com os sintomas mais impactantes.
EXAMES: QUANDO SÃO NECESSÁRIOS?
Embora os exames laboratoriais e de imagem não sejam utilizados para confirmar o diagnóstico dos transtornos de ansiedade, eles podem ser importantes para descartar outras causas físicas que provocam sintomas parecidos.
Alguns exemplos incluem:
- Doenças da tireoide (hipotireoidismo e hipertireoidismo)
- Condições cardíacas, como arritmias e doença arterial coronariana
- Doenças respiratórias, como asma e DPOC
Portanto, em determinados contextos, o psiquiatra ou clínico pode solicitar exames complementares, não para “confirmar” o transtorno de ansiedade, mas para garantir que não há uma condição médica subjacente que precise de atenção específica.
COMO É FEITO O TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE?
O tratamento dos transtornos de ansiedade deve ser individualizado e baseado em evidências científicas, levando em consideração o tipo de transtorno, a gravidade dos sintomas, a presença de outras condições associadas e as preferências do paciente.
Existem diferentes abordagens eficazes, e na maioria dos casos, a combinação entre medicamentos e psicoterapia é a abordagem que traz os resultados mais duradouros e eficazes, promovendo melhora dos sintomas e qualidade de vida no longo prazo.
O acompanhamento com um psiquiatra é fundamental no tratamento dos transtornos de ansiedade. Esse profissional é capacitado para avaliar o quadro de forma completa, considerar a história clínica, os sintomas atuais e indicar, quando necessário, o tratamento medicamentoso mais adequado.
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO:
Os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSNs), por apresentarem boa eficácia e tolerância.
Esses medicamentos são considerados a primeira escolha para a maioria dos transtornos de ansiedade, com exceção das fobias específicas, que respondem melhor à psicoterapia de abordagem cognitivo-comportamental com foco na exposição, considerada o tratamento mais indicado nesses casos.
A escolha do medicamento ideal deve levar em conta diversos fatores, como:
- Histórico de resposta prévia (caso o paciente já tenha usado alguma medicação com bons resultados)
- Preferência do paciente
- Perfil de efeitos colaterais e tolerabilidade
- Presença de comorbidades (como depressão, transtorno bipolar, uso de substâncias ou condições clínicas associadas)
Em quadros mais intensos ou no início do tratamento, o psiquiatra pode indicar também o uso de benzodiazepínicos, sempre de forma criteriosa e por curto prazo, devido ao risco de dependência.
Outras medicações, como anticonvulsivantes e antipsicóticos em baixas doses, podem ser utilizadas como reforço (adjuvantes) em casos mais resistentes ou quando os antidepressivos não são bem tolerados.
O tratamento medicamentoso costuma durar de 6 a 24 meses após a remissão dos sintomas, e qualquer interrupção ou ajuste deve ser feita sempre com orientação médica, para garantir segurança e prevenir recaídas.
PSICOTERAPIA:
A psicoterapia tem se tornado cada vez mais reconhecida como uma parte fundamental do tratamento dos transtornos de ansiedade.
Entre as opções disponíveis, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a mais recomendada como primeira linha de tratamento, especialmente por ser a abordagem com maior número de estudos científicos comprovando sua eficácia para diferentes tipos de transtornos ansiosos.
Na TCC, o foco está em ajudar o paciente a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
Um dos primeiros passos é aprender a reconhecer os pensamentos automáticos negativos, que surgem de forma rápida e intensa diante de certas situações. Com o apoio do terapeuta, o paciente passa a questionar e substituir esses pensamentos por interpretações mais realistas e adaptativos.
Outro recurso central da TCC é a técnica de exposição, na qual o paciente é gradualmente encorajado a enfrentar, de maneira segura e controlada, as situações que causam ansiedade.
Esse processo ajuda a reduzir o medo e aumentar a tolerância ao desconforto, permitindo que a pessoa perceba, na prática, que muitas das situações temidas não são tão ameaçadoras quanto pareciam.
A psicoterapia também atua sobre comportamentos de esquiva, que muitas vezes reforçam a ansiedade.
Ao modificar esses padrões, o paciente aprende estratégias mais saudáveis para lidar com o medo, a insegurança e a tensão.
PSICOEDUCAÇÃO:
Parte fundamental do tratamento é a psicoeducação — ou seja, fornecer ao paciente e sua família informações claras sobre o transtorno, seus sintomas, causas, formas de tratamento e prevenção de recaídas.
Quando a pessoa compreende o que está vivendo, ela se sente mais segura e mais engajada no processo terapêutico.
OUTROS TRATAMENTOS COMPLEMENTARES:
Além da psicoterapia e do tratamento medicamentoso, existem outras estratégias que complementam o cuidado com a saúde mental e ajudam significativamente na redução dos sintomas de ansiedade.
Essas abordagens não substituem o tratamento principal, mas reforçam seus efeitos e contribuem para uma melhora mais ampla e duradoura da qualidade de vida.
1. Atividade física regular:
A prática estruturada de exercícios físicos, como caminhada, musculação, corrida, natação ou dança, tem demonstrado benefícios consistentes na redução da ansiedade.
A atividade física atua na melhora do sono, reduz a tensão e aumenta a sensação de bem-estar. Por isso, é altamente recomendada como parte do plano terapêutico.
2. Intervenções psicossociais:
Algumas práticas têm ganhado destaque como terapias complementares eficazes no manejo da ansiedade. Entre elas:
- Técnicas de relaxamento e respiração
- Mindfulness
- Meditação e yoga
Essas intervenções ajudam a aumentar a consciência sobre o momento presente, reduzem a reatividade emocional e promovem maior equilíbrio interno. Muitas vezes, são indicadas como parte do processo terapêutico.
3. Mudanças no estilo de vida:
Pequenas mudanças nos hábitos diários também fazem diferença no controle da ansiedade. Entre as mais recomendadas estão:
- Manter uma alimentação equilibrada
- Evitar o consumo excessivo de cafeína e álcool
- Parar de fumar
- Reduzir alimentos ultraprocessados e açúcares refinados
- Criar uma rotina de sono saudável
CONCLUSÃO
Os transtornos de ansiedade formam um grupo amplo e diverso de condições que podem afetar de maneira profunda a saúde emocional, física e profissional, além de impactarem significativamente a vida social e a qualidade das relações interpessoais.
Na maioria das vezes, são quadros crônicos, que se instalam aos poucos e, quando não reconhecidos ou tratados adequadamente, tendem a provocar prejuízos acumulados ao longo do tempo.
Por isso, o diagnóstico precoce e o início de um tratamento bem conduzido são essenciais. Eles ajudam a aliviar o sofrimento, promover o bem-estar e restaurar o equilíbrio emocional, contribuindo para uma melhora significativa na qualidade de vida, no desempenho profissional, nas interações sociais e nos vínculos afetivos.
Reconhecer os sinais da ansiedade e buscar ajuda especializada são passos essenciais para um cuidado eficaz e duradouro.
Caso você tenha se identificado com os sintomas descritos ou deseje uma avaliação mais aprofundada, agende uma consulta comigo.
O acompanhamento psiquiátrico individualizado pode fazer toda a diferença no seu bem-estar.
SAIBA MAIS:
- DEPRESSÃO: O QUE É, COMO IDENTIFICAR OS SINTOMAS E QUAIS OS TRATAMENTOS https://dratahirihkaffashi.com.br/depressao/
- TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER https://dratahirihkaffashi.com.br/transtorno-afetivo-bipolar/
- PSIQUIATRA: QUANDO E POR QUE PROCURAR ESSE PROFISSIONAL? https://dratahirihkaffashi.com.br/psiquiatra/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.
- Miguel EC, et al. Clínica psiquiátrica: os fundamentos da psiquiatria. Vol. 2. 2ª ed., ampl. e atual. Barueri (SP): Manole; 2021.
- American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.
- Nardi AE, Silva AG, Quevedo J. Tratado de psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Artmed; 2022.
- Hales RE, Yudofsky SC, Gabbard GO. Tratado de psiquiatria clínica. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2012.