Dra. Tahirih Kaffashi – Psiquiatra

“Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta” 
Carl Jung

Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física. No entanto, muitas vezes surgem dúvidas sobre quando procurar ajuda especializada.

Este artigo vai te ajudar a entender o papel do psiquiatra, em que momentos buscar esse profissional e como o acompanhamento adequado pode fazer toda a diferença no seu bem-estar e qualidade de vida.

COMO A DRA. TAHIRIH PODE TE AJUDAR NO CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL?

Sou médica psiquiatra, com residência médica em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Acredito que cada pessoa carrega uma história única — e que essa história merece ser escutada com atenção, empatia e respeito.

Tenho convicção de que o cuidado com a saúde mental começa no encontro humano — na escuta verdadeira, sem pressa e sem julgamentos.

Minha prática clínica é guiada por dois pilares fundamentais, que se complementam e se fortalecem:

  • Compromisso com a ciência, que garante que cada decisão seja orientada pelas melhores evidências disponíveis, em busca de tratamentos eficazes e seguros;

  • Escuta sensível e acolhedora, que reconhece a singularidade de cada pessoa, sua história, seus sentimentos e suas necessidades.

Acredito que o cuidado só é completo quando se une conhecimento técnico com humanidade e empatia. Antes de qualquer diagnóstico ou tratamento, é essencial enxergar quem está ali, do outro lado.

Se você chegou até aqui e sente que precisa de apoio, saiba: você não está sozinho(a).

Estou à disposição para oferecer um espaço seguro, humano e cuidadoso, onde juntos possamos buscar caminhos para aliviar o sofrimento e reconstruir o seu bem-estar.

O QUE É SAÚDE MENTAL?

Cuidar da saúde vai muito além de simplesmente “não estar doente” — envolve também nossos sentimentos, pensamentos e a forma como nos conectamos com o mundo e com as pessoas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça essa ideia ao definir saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social.

Quando falamos de saúde mental, ainda existe muita dúvida, medo e preconceito, embora os transtornos mentais sejam mais comuns do que imaginamos e possam afetar qualquer pessoa, em qualquer fase da vida.

Segundo a OMS, mais de 25% da população mundial enfrentará algum transtorno mental ao longo da vida.

É justamente nesse contexto que o trabalho do psiquiatra se torna essencial.

Mais do que diagnosticar ou tratar, o psiquiatra está aqui para escutar com empatia, acolher sem julgamentos e oferecer o cuidado mais adequado para cada pessoa e sua história.

Se você já se perguntou “Será que preciso de um psiquiatra?”, ou se apenas quer entender melhor como esse profissional pode te ajudar, este artigo é para você.

O QUE É A PSIQUIATRIA E COMO ELA PODE TE AJUDAR?

A psiquiatria é uma especialidade da medicina que cuida da saúde mental. Ela se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais que afetam pensamentos, emoções, comportamentos e relações.

Cuidar da saúde mental vai muito além de simplesmente “não ter uma doença”.

A saúde mental é um estado de equilíbrio emocional e social que permite enfrentar desafios, desenvolver potencial, manter boas relações, trabalhar ou estudar com eficiência e contribuir para a sociedade.

A saúde mental influenciando diretamente a forma como vivemos, tomamos decisões e nos relacionamos. Ou seja, cuidar da saúde mental é cuidar da vida como um todo.

A psiquiatria busca promover esse equilíbrio, oferecendo suporte técnico e humano para aliviar o sofrimento emocional e restaurar a qualidade de vida.

Entre os transtornos mais comumente tratados na psiquiatria, estão:

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Transtorno Afetivo Bipolar
  • Transtorno do Pânico
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
  • Transtornos Alimentares
  • Transtorno de Estresse Pós-Traumático
  • Esquizofrenia
  • Transtornos de Personalidade

E quem conduz esse cuidado é o psiquiatra — o médico responsável por ouvir, avaliar e construir com o paciente o caminho para o tratamento mais adequado.

COMO SE FORMA UM PSIQUIATRA?

Para se tornar psiquiatra, o primeiro passo é concluir a faculdade de medicina, com duração de 6 anos. Depois disso, o médico precisa realizar uma especialização (residência médica) em psiquiatria, que dura mais 3 anos.

A residência médica é um período intenso de formação prática e teórica, no qual o médico atua diretamente com pacientes, sob supervisão de psiquiatras experientes e em contato constante com outros profissionais da saúde mental.

Ao longo dessa jornada, o futuro psiquiatra passa por diferentes cenários de cuidado, como:

  • Hospitais psiquiátricos
  • Ambulatórios especializados
  • Pronto-socorros psiquiátricos 

Essa vivência proporciona contato com uma ampla variedade de quadros clínicos — desde casos mais leves, como ansiedade e depressão, até transtornos complexos, como esquizofrenia, transtorno bipolar e dependência química.

Mais do que aprender diagnósticos e tratamentos, o residente desenvolve escuta ativa, empatia, e uma compreensão mais profunda da subjetividade humana.

Ele é preparado para enxergar além dos sintomas, considerando a história de vida, os vínculos afetivos, o contexto social e os sentimentos de cada pessoa atendida.

Esse processo prepara o psiquiatra para oferecer um atendimento que vai além da prescrição de medicamentos — um cuidado que considera a história de vida, os vínculos, os sentimentos e as necessidades de cada pessoa.

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE PSIQUIATRA E PSICÓLOGO?

Essa é uma dúvida muito comum — afinal, tanto o psiquiatra quanto o psicólogo atuam na área da saúde mental. Mas é importante saber que esses profissionais têm formações diferentes, funções complementares e, muitas vezes, trabalham juntos no cuidado ao paciente.

O QUE FAZ O PSIQUIATRA?

O psiquiatra é um médico com especialização em psiquiatria. Ele está habilitado para:

  • Avaliar o quadro clínico do paciente;
  • Diagnosticar transtornos mentais;
  • Prescrever medicamentos, quando necessário.

Além disso, o psiquiatra considera diversos fatores na avaliação, como aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Em muitos casos, ele também orienta sobre mudanças no estilo de vida e outras abordagens complementares ao tratamento.

E O PSICÓLOGO?

O psicólogo é um profissional formado em Psicologia. Sua principal ferramenta de trabalho é a psicoterapia — também conhecida como “terapia”.

A psicoterapia é um processo de cuidado que acontece, principalmente, por meio do diálogo, da escuta e da relação terapêutica. O objetivo é ajudar o paciente a compreender e transformar pensamentos, emoções e comportamentos que estejam causando sofrimento. A psicoterapia também ajuda a:

  • Promover o autoconhecimento;
  • Fortalecer a autoestima;
  • Melhorar as relações interpessoais;
  • Estimular o desenvolvimento pessoal e emocional.

PSIQUIATRA E PSICÓLOGO PODEM TRABALHAR JUNTOS?

Sim! — e muitas vezes isso faz toda a diferença! O acompanhamento conjunto pode ser muito benéfico. Enquanto o psiquiatra avalia o quadro clínico e indica possíveis intervenções médicas, o psicólogo oferece suporte emocional, escuta qualificada e estratégias para lidar com os desafios do dia a dia.

Essa integração é especialmente recomendada em casos de transtornos mentais mais complexos ou persistentes, garantindo um cuidado completo, profundo e respeitoso com a singularidade de cada pessoa.

MAS AFINAL, O QUE SÃO TRANSTORNOS MENTAIS?

Os transtornos mentais são condições que afetam de forma significativa o modo como uma pessoa pensa, sente e age.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), um transtorno mental é caracterizado por uma alteração importante na cognição, na regulação das emoções ou no comportamento.

Essas alterações refletem disfunções em processos psicológicos, biológicos ou no desenvolvimento da pessoa — e, na maioria das vezes, vêm acompanhadas de sofrimento emocional e prejuízos na vida pessoal, social, profissional ou familiar.

Mas é fundamental compreender: nem todo sofrimento psíquico representa, necessariamente, um transtorno mental.

Sentir tristeza após uma perda, preocupar-se antes de uma decisão importante ou ficar irritado diante de situações estressantes são reações humanas esperadas — fazem parte da forma como respondemos aos altos e baixos da vida.

Ter emoções intensas não é, por si só, um sinal de adoecimento. Cada pessoa vivencia e expressa seus sentimentos de forma única, de acordo com sua história, sua personalidade e seu contexto.

Por isso, é essencial ter cautela antes de fazer julgamentos ou rótulos apressados.

A escuta atenta e a avaliação cuidadosa por um profissional qualificado são fundamentais para diferenciar o que é parte da experiência humana e o que demanda atenção especializada.

O MESMO DIAGNÓSTICO PODE SE MANIFESTAR DE FORMAS DIFERENTES?

Cada diagnóstico psiquiátrico representa um universo único. O que todos os pacientes têm em comum é a necessidade de algum tipo de cuidado especializado em saúde mental — mas isso não significa que todos precisarão do mesmo tipo de tratamento.

Duas pessoas com o mesmo diagnóstico podem ter experiências totalmente distintas. Por exemplo, no transtorno depressivo maior (depressão):

  • Uma pessoa pode continuar trabalhando e se relacionando, mesmo com dificuldades.
  • Outra pode ter dificuldade até para sair da cama ou tomar banho.

Essa diversidade reforça a importância de uma avaliação individualizada e acolhedora, que leve em consideração a história, os recursos e os limites de cada pessoa.

DIVERSIDADE DOS QUADROS E FORMAS DE CUIDADO

Os transtornos mentais não são todos iguais — há uma ampla gama de manifestações e intensidades.

Alguns quadros mais leves, como reações de ajustamento a situações difíceis (ex.: separação, mudança de cidade), podem ser tratados sem medicação.

Nesses casos, a escuta qualificada, o apoio psicológico e mudanças no estilo de vida — como sono adequado, alimentação saudável, prática de exercícios e fortalecimento da rede de apoio — costumam ser suficientes para promover a recuperação.

Por outro lado, há transtornos mais graves ou complexos, que impactam de forma significativa a rotina, as relações e a autonomia da pessoa.

Nesses casos, o tratamento costuma envolver acompanhamento psiquiátrico regular, uso de medicamentos e, frequentemente, psicoterapia contínua. Em algumas situações, é necessário o apoio de uma equipe multidisciplinar.

Importante dizer: grave não significa sem solução. Com o cuidado adequado, mesmo pessoas com diagnósticos mais complexos podem alcançar qualidade de vida, autonomia e bem-estar.

COMO IDENTIFICAR OS MOMENTOS EM QUE A AJUDA DE UM PSIQUIATRA É NECESSÁRIA?

Quando um transtorno mental está presente, seus efeitos costumam ir muito além dos sintomas clínicos — eles se manifestam de forma profunda e persistente em diferentes aspectos da vida da pessoa.

Esses impactos variam de acordo com a gravidade e o tipo do transtorno, mas alguns sinais costumam ser comuns:

  • Sofrimento emocional constante: sentimentos como angústia, tristeza profunda, medo ou desespero passam a fazer parte do cotidiano, muitas vezes sem uma causa aparente, tornando difícil encontrar alívio ou bem-estar.

  • Dificuldade de concentração e tomada de decisões: tarefas simples podem se tornar confusas ou exaustivas. É comum sentir a mente “embaralhada”, com dificuldade para se organizar, planejar o dia ou cumprir compromissos.

  • Problemas nos relacionamentos e isolamento social: a convivência com familiares, amigos ou colegas pode se tornar difícil. A pessoa pode se afastar, evitar interações ou se sentir incompreendida, solitária ou irritada com mais frequência.

  • Queda no desempenho no trabalho ou nos estudos: a motivação diminui, a produtividade cai e o senso de capacidade pessoal pode ser abalado. Em alguns casos, a pessoa sente que não consegue mais lidar com demandas que antes eram simples.

  • Perda de interesse e prazer: atividades que antes traziam alegria — como hobbies, passeios, encontros ou até momentos de descanso — deixam de fazer sentido. Surge uma sensação de vazio, desânimo ou desconexão com a vida.
  • Alterações no sono, no apetite e na energia: insônia ou sono excessivo, perda ou aumento do apetite, cansaço constante, falta de motivação e lentidão física ou mental também são sinais do adoecimento mental.

  • Sintomas físicos sem causa aparente: dores de cabeça frequentes, problemas digestivos, tensão muscular, palpitações ou outros incômodos físicos que persistem mesmo após exames médicos normais podem estar relacionados ao estresse, ansiedade ou outras questões emocionais. O corpo muitas vezes expressa aquilo que a mente ainda não consegue nomear.

  • Pensamentos negativos constantes ou ideias de suicídio: quando a pessoa passa a se enxergar de forma negativa, sente-se sem esperança ou começa a ter pensamentos sobre morte, isso indica um sofrimento profundo que precisa ser acolhido com urgência por um profissional.

  • Uso excessivo de álcool ou drogas: recorrer a substâncias para fugir da dor emocional pode parecer um alívio momentâneo, mas tende a agravar o sofrimentoe compromete outras áreas da vida, como o trabalho e os vínculos afetivos.

  • Comportamentos incomuns ou fora do habitual: mudanças bruscas no jeito de agir, isolamento extremo, agitação ou atitudes impulsivas podem ser formas de expressar um sofrimento interno.

  • Paranoias, delírios ou alucinações: desconfiar excessivamente das pessoas, acreditar em coisas que não estão acontecendo (como estar sendo perseguido) ou ver/ouvir coisas que os outros não percebem são sinais de que pode haver um distanciamento da realidade. Esses sintomas precisam ser avaliados com cuidado.

Se você — ou alguém próximo — estiver apresentando algum desses sinais, buscar um psiquiatra pode ser essencial.

Esse profissional é capacitado para identificar e diagnosticar questões de saúde mental, além de indicar o tratamento mais adequado para cada caso.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO EM PSIQUIATRIA?

Diferente de outras áreas da medicina, onde o exame físico e os exames complementares (como exames de sangue e de imagem) costumam ter papel central, o diagnóstico psiquiátrico é feito, principalmente, por meio de uma escuta atenta e cuidadosa.

Essa conversa detalhada com o paciente é chamada de entrevista psiquiátrica.

A entrevista psiquiátrica é centrada na pessoa (paciente). Isso significa que o foco principal é entender o paciente em sua individualidade.

Durante a conversa, o psiquiatra busca ouvir a história de vida da pessoa, conhecer sua experiência única e compreender o que ela está vivendo.

Mais do que apenas analisar sintomas, o objetivo é criar um espaço de escuta e acolhimento, onde o paciente possa se expressar com liberdade e ser visto como um todo — com sua história, emoções e vivências.

Entre os aspectos que costumam ser explorados, estão:

  • Infância e relações familiares
  • Vivências afetivas e profissionais
  • Perdas marcantes e lutos
  • Hábitos, rotinas e crenças
  • Eventos traumáticos ou mudanças significativas
  • Histórico familiar de transtornos mentais
  • Tratamentos psiquiátricos realizados anteriormente

Essas informações ajudam a construir uma visão mais completa, indo muito além de um diagnóstico em si.

Em muitos casos, o psiquiatra também solicita a participação de familiares ou pessoas próximas — como pais, filhos, irmãos, companheiros — durante a avaliação.

Isso porque quem convive com o paciente costuma perceber mudanças no comportamento, no humor e na rotina que, muitas vezes, o próprio paciente não nota. Esses relatos complementam a escuta e contribuem para uma compreensão mais ampla e precisa do quadro.

Depois de ouvir com atenção o que o paciente tem a dizer, o psiquiatra organiza todas essas informações para tentar compreender o que está por trás do sofrimento psíquico.

Nessa avaliação, ele busca identificar se há algum transtorno mental envolvido e, se sim, qual seria o mais compatível com aquilo que o paciente está vivenciando.

Para ajudá-lo nessa tarefa, o psiquiatra se baseia em manuais diagnósticos reconhecidos internacionalmente, que funcionam como guias técnicos. Os dois principais são:

  • DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
  • CID-11 – Classificação Internacional de Doenças, da Organização Mundial da Saúde

Esses manuais reúnem critérios específicos para diferentes transtornos mentais, como depressão, transtornos de ansiedade, transtorno bipolar, entre outros. Mas vale destacar: os manuais não “dão” o diagnóstico.

Eles são ferramentas que orientam o raciocínio clínico — não substituem a escuta atenta nem o olhar cuidadoso do profissional.

Em geral, o diagnóstico não é definido de forma imediata. Ele se constroi gradualmente ao longo de um acompanhamento contínuo, realizado por meio de consultas regulares — processo conhecido como avaliação longitudinal.

Esse acompanhamento permite ao psiquiatra observar a evolução do paciente, sua resposta ao tratamento e as nuances do seu comportamento e da forma como lida com as próprias emoções.

Com o tempo, também se aprofunda a compreensão sobre o histórico de vida, os gatilhos emocionais e o padrão dos sintomas, o que torna possível refinar o diagnóstico e oferecer um cuidado mais adequado. 

QUAL O PAPEL DOS EXAMES NA PSIQUIATRIA?

Os exames complementares têm um papel importante na psiquiatria — mas diferente do que acontece em outras áreas da medicina. Seu principal objetivo não é confirmar um transtorno mental, mas descartar possíveis causas clínicas ou físicas que possam estar provocando sintomas psiquiátricos.

Isso porque alterações no humor, no comportamento ou no pensamento também podem ser consequência de condições médicas não psiquiátricas, como:

  • Doenças hormonais (endócrino-metabólicas): hipotireoidismo, hipertireoidismo, doença de Cushing
  • Deficiências nutricionais: deficiência de vitamina B12, deficiência de folato
  • Doenças infecciosas: HIV/Aids, sífilis, hepatites B e C
  • Doenças neurológicas: doença de Alzheimer, Parkinson,  epilepsia,encefalites
  • Doenças inflamatórias e autoimunes: lúpus, artrite reumatoide

QUANDO OS EXAMES SÃO SOLICITADOS?

Os exames complementares podem ser indicados em diferentes momentos do acompanhamento psiquiátrico, de acordo com as necessidades de cada caso.

No início da avaliação, os exames podem ser solicitados para investigar possíveis causas clínicas dos sintomas. Por exemplo, um hipotireoidismo pode provocar sintomas depressivos, enquanto infecções podem desencadear delírios ou alucinações.

Antes de iniciar uma medicação, o psiquiatra pode solicitar exames para avaliar se o organismo está apto a receber o tratamento com segurança. Entre os mais comuns estão: função renal e hepática (fígado), hemograma, perfil lipídico e eletrocardiograma.

Já durante o tratamento, esses exames ajudam a monitorar a resposta do corpo, ajustar as doses quando necessário e prevenir efeitos colaterais — garantindo um acompanhamento mais seguro, individualizado e eficaz ao longo do tempo.

OU SEJA:

  • Os exames na psiquiatria são aliados importantes para garantir um diagnóstico mais preciso e um tratamento mais seguro.
  • Eles são solicitados de forma individualizada, sempre que houver uma indicação específica, seja para investigar causas clínicas, seja para acompanhar o uso de medicamentos.
  • Ainda assim, o principal instrumento continua sendo a escuta atenta, o vínculo terapêutico e o olhar integral para cada paciente.

COMO FUNCIONA O TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO?

O principal objetivo do tratamento psiquiátrico é promover alívio do sofrimento, autonomia, qualidade de vida e equilíbrio para o paciente. Cada plano terapêutico é construído de forma personalizada, levando em conta não apenas os sintomas, mas também as preferências, a história de vida e os objetivos daquela pessoa.

A combinação de diferentes estratégias — medicação, psicoterapia, atividade física, terapia ocupacional, vínculos sociais e suporte multiprofissional — oferece um cuidado mais completo e eficaz.

Cada decisão de tratamento é baseada na Medicina Baseada em Evidências, o que garante que as intervenções escolhidas sejam respaldadas por pesquisas de qualidade e estejam alinhadas às melhores práticas atuais.

A seguir, explicarei como essas diferentes estratégias se complementam.

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO:

Os medicamentos psicotrópicos são amplamente utilizados no tratamento de transtornos mentais e são indicados conforme o diagnóstico e as necessidades do paciente. Eles podem incluir:

  • Antidepressivos
  • Ansiolíticos
  • Antipsicóticos
  • Estabilizadores do humor
  • Hipnóticos
  • Estimulantes

Um mesmo medicamento pode ser usado para diferentes condições. Por exemplo, os ISRSs (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) são utilizados tanto para depressão quanto para transtornos de ansiedade.

A resposta ao medicamento é individual, e depende de fatores como genética, estilo de vida, presença de outras condições clínicas, histórico familiar e experiências anteriores com tratamentos.

Por isso, o acompanhamento contínuo e individualizado é fundamental. O psiquiatra ajusta doses, avalia efeitos colaterais e observa a resposta ao longo do tempo.

POR QUANTO TEMPO DEVO TOMAR A MEDICAÇÃO?

Essa é uma dúvida comum. A resposta depende do diagnóstico, do histórico de episódios de agravamentos dos sintomas e da evolução dos sintomas. Em casos crônicos ou recorrentes, o uso pode ser prolongado para manter a estabilidade e prevenir retorno dos sintomas.

ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL:

Além dos medicamentos, o tratamento muitas vezes envolve uma equipe de diferentes profissionais, que trabalham em conjunto para oferecer um cuidado mais completo e integrado.

Psicólogo:

A psicoterapia é uma parte essencial do tratamento e oferece um espaço seguro para que o paciente possa falar sobre seus sentimentos, elaborar experiências difíceis, desenvolver estratégias de enfrentamento e fortalecer sua saúde emocional.

Um dos principais benefícios da psicoterapia é o autoconhecimento. Ao longo do processo, o paciente é convidado a refletir sobre si mesmo, seus pensamentos, emoções, comportamentos e relações.

Essa compreensão mais profunda contribui para o desenvolvimento da autoestima, autoconfiança e habilidades emocionais e sociais, promovendo uma convivência mais saudável consigo mesmo e com os outros.

Além disso, a psicoterapia possibilita a identificação de traumas, medos, inseguranças e padrões repetitivos de comportamento, ajudando o paciente a construir recursos internos para lidar com os desafios da vida e com os sintomas do transtorno mental de forma mais equilibrada.

Existem diversas abordagens dentro da psicologia, e a escolha da linha terapêutica depende do perfil do paciente, da queixa principal e dos objetivos do tratamento. Entre as mais conhecidas, estão:

  • Psicanálise
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
  • Terapia Comportamental Dialética (DBT)
  • Terapia familiar e de casal
  • Psicoterapia de grupo
  • Psicoterapia de orientação analítica

Terapeuta ocupacional:

A terapia ocupacional é uma das áreas fundamentais no cuidado em saúde mental. Seu objetivo principal é ajudar o paciente a reconstruir sua rotina, retomar seu papel na sociedade e encontrar mais sentido nas atividades do dia a dia.

O terapeuta ocupacional trabalha com base na compreensão de que a participação ativa em ocupações — como cuidar de si, estudar, trabalhar, se relacionar e ter momentos de lazer — é essencial para a saúde mental e o bem-estar. Quando a pessoa está em sofrimento psíquico, essas atividades muitas vezes são interrompidas, dificultadas ou perdem o sentido.

A atuação da terapia ocupacional busca justamente restabelecer essas conexões com a vida cotidiana, promovendo:

  • Autonomia e independência nas atividades diárias
  • Organização da rotina de forma funcional e realista
  • Resgate do senso de identidade e pertencimento social
  • Reintegração social e comunitária, com suporte na volta ao estudo, ao trabalho ou à vida em grupo
  • Estímulo à criatividade e à expressão emocional por meio de oficinas, artes, projetos e práticas significativas

Mais do que desenvolver habilidades práticas, a terapia ocupacional fortalece a autoestima, estimula a autonomia e ajuda a pessoa a recuperar o protagonismo da própria vida.

Outros especialistas podem ser integrados à equipe terapêutica, como nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e educadores físicos, conforme a necessidade de cada paciente.

O tratamento multiprofissional é sempre individualizado, ajustado à complexidade e às particularidades de cada caso, com o objetivo de oferecer um cuidado completo e humanizado.

ATIVIDADE FÍSICA:

A prática regular de exercício físico traz benefícios comprovados para a saúde mental, como:

  • Redução da ansiedade e da depressão
  • Melhora do sono e da energia
  • Prevenção de doenças cardiovasculares (comuns em pacientes psiquiátricos)

Mesmo em quadros graves, a atividade física pode ser adaptada e integrada ao plano de tratamento.

FORTALECIMENTO DOS VÍNCULOS SOCIAIS:

A qualidade dos vínculos sociais tem grande impacto na saúde mental. Sentir-se pertencente, ter relações de afeto e apoio mútuo são fatores protetores contra o adoecimento psíquico — e também são fundamentais no processo de recuperação.

PSICOEDUCAÇÃO:

A psicoeducação é uma parte essencial do tratamento psiquiátrico. Envolve orientar o paciente e seus familiares sobre a natureza do transtorno mental, os sintomas, os fatores de riscos, o curso da doença, os tratamentos disponíveis e estratégias de enfrentamento. 

Também faz parte da psicoeducação identificar gatilhos (situações ou eventos que podem provocar uma crise) e fatores perpetuadores, que são hábitos, padrões de pensamento ou contextos que mantêm o sofrimento ao longo do tempo e dificultam a melhora.

A participação da família também é essencial. Quando os familiares compreendem o transtorno e suas implicações, tornam-se capazes de oferecer um suporte mais empático, efetivo e menos baseado em julgamentos.

O psiquiatra, nesse contexto, exerce um papel central na educação continuada do paciente e de sua rede de apoio.

Fornecer informações de forma clara e cuidadosa contribui para reduzir o estigma relacionado aos transtornos mentais, responder dúvidas, fortalecer vínculos e promover um ambiente mais acolhedor para a recuperação.

LOCAIS DE TRATAMENTO EM PSIQUIATRIA: QUAL A DIFERENÇA?

O tratamento psiquiátrico pode ocorrer em diferentes contextos, de acordo com a gravidade do quadro clínico, a necessidade de suporte e a realidade de cada paciente.

 TRATAMENTO AMBULATORIAL:

É a forma mais comum de atendimento em psiquiatria. Nele, o paciente realiza consultas regulares com o psiquiatra e, quando necessário, com outros profissionais da equipe multiprofissional — como psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, entre outros.

O tratamento ambulatorial é indicado para quadros que não exigem supervisão contínua, mas ainda assim requerem acompanhamento especializado e constante.

HOSPITAL DIA:

O Hospital Dia oferece uma estrutura intermediária entre o ambulatório e a internação. O paciente permanece no serviço por algumas horas ao dia, participando de:

  • Atividades terapêuticas
  • Oficinas e grupos 
  • Atendimentos individuais

No fim do dia, ele retorna para casa. Esse modelo é indicado quando há necessidade de suporte mais intensivo, mas sem afastamento completo da vida familiar e social.

INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA:

A internação é indicada em situações em que o paciente precisa de cuidados intensivos e monitoramento integral, geralmente por apresentar risco ou um quadro clínico mais grave. Exemplos:

  • Risco iminente de suicídio ou autoagressão
  • Comportamento agressivo com risco para outras pessoas
  • Grave desorganização do comportamento ou exposição social inadequada
  • Falta de resposta a tratamentos anteriores realizados em nível ambulatorial

Durante a internação, o paciente permanece em ambiente hospitalar especializado, com acompanhamento multiprofissional contínuo, voltado à estabilização do quadro clínico. Após a melhora, o tratamento pode ser retomado em nível ambulatorial ou no hospital dia, garantindo a continuidade do cuidado.

CONSULTAS ONLINE FUNCIONAM?

Sim! As consultas online em psiquiatria (telemedicina) são uma alternativa segura, prática e, para muitos pacientes, tão eficaz quanto o atendimento presencial.

Esse formato tem sido cada vez mais utilizado e reconhecido como uma ferramenta válida e confiável. Diversos estudos demonstram que o acompanhamento online apresenta bons resultados na evolução clínica, na adesão ao tratamento e na construção do vínculo terapêutico.

Quais são as vantagens da consulta online?

  • Facilidade de acesso, especialmente para quem mora longe dos centros urbanos ou tem dificuldade de locomoção
  • Redução do tempo de deslocamento, o que otimiza a rotina do paciente
  • Mais comodidade e flexibilidade, favorecendo a continuidade do tratamento
  • Privacidade e conforto de poder conversar com seu médico em um ambiente familiar

Esse formato pode ser uma excelente alternativa em diversos momentos do tratamento, proporcionando mais conforto e praticidade — sem abrir mão da qualidade do cuidado, da escuta atenta e do vínculo entre médico e paciente.

Se você está em busca de cuidado em saúde mental, saiba que não precisa passar por isso sozinho(a). Estou aqui para oferecer um espaço seguro e acolhedor, onde possamos, juntos, aliviar o sofrimento e construir caminhos para o seu bem-estar emocional e sua qualidade de vida.

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SAIBA MAIS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.
  2. Miguel EC, organizador. Clínica psiquiátrica: os fundamentos da psiquiatria. Vol. 1. 2ª ed., ampl. e atual. Barueri (SP): Manole; 2021.
  3. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 [recurso eletrônico]. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.
  4. Nardi AE, Silva AG, Quevedo J, organizadores. Tratado de psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 2022.

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